Os dias passaram voando e nossa viagem ficou mais intensa, queríamos aproveitar cada segundo naquele paraíso.
Paulo desconfiava das olhadas de Luidge para Lola, mas nunca fez pergunta alguma. Ele só se irritou mesmo depois do quarto dia de flores na mesa do café da manha. Quase virou a mesa só porque Lola guardou a flor como estava fazendo toda vez que as encontrava. Conhecendo bem a pessoa como eu conhecia ele ia dar o troco sem ninguém esperar. Esse era o grande problema de Paulo. Ele descontava não só na Lola seu ciúme doentio, mas em quem estivesse por perto. Em partes isso era bom, pois Luidge via com quem realmente ele estava se metendo.
Quando resolvemos encarar uma nova aventura Paulo fez questão de acordar mais cedo e murchar os quatro pneus de um dos carros, só para nos atrasar e deixar Lola possuída.
- Você me acorda mais cedo, me faz sair correndo do quarto e não tinha visto que os quatro pneus estavam murchos? – jogando as coisas dentro do carro – Fez todo mundo descer pra chegar aqui e ficar esperando sua linda lerdeza criar coragem e trocar esses malditos pneus.
- Como que eu saberia disso meu amor? – Paulo trocava os pneus como se fossem de cristal, sua voz era a mais tranqüila e desafiadora que ele conseguia fazer.
Lola não agüentava quando ele agia assim, vários celulares foram destruídos na hora em que ela tentava fazer alguma ligação para pedir ajuda.
- Adoro suas cenas Paulo, elas me agradam tanto que me dá até vontade de cantar – Lola pegou um cigarro e sentou na guia pra não ter que quebrar outro celular.
- Vou fazer tudo o mais rápido que posso – ele estava no terceiro pneu, mas estava demorando tanto que parecia o primeiro ainda.
Ninguém falou mais nada até ele terminar. Luidge entrou dentro do outro carro e ficou ouvindo musica como se aquilo tudo não tivesse nada a ver com ele. Fulminei ele com os olhos, se isso valesse de alguma coisa ele seria só osso naquele momento. Lola decidiu ir no outro carro, não queria, tão cedo, ser vitima de mais uma peça de Paulo. Me segurei bastante pra não contar pra ele quem é que estava mandando as flores pra sua namorada. Nosso passeio atrasou em mais de duas horas. Isso seria motivo suficiente para me fazer contar, queria naquele momento ver Luidge de ponta cabeça em uma corda. Aquele pensamento me aterrorizou, mas eu sabia que de onde vieram quatro pneus murchos viria muito mais. Como estávamos em seis sobrou pra mim ir com Paulo, foi a pior coisa que já fiz na minha vida. Nossos santos não batiam passei terror em quinze minutos de percurso, ele não parou de falar um minuto os assuntos eram irregulares e não faziam sentido algum. Fiquei com medo quando ele ficou quieto e soltou uma risada nada interessante, risada de quem estava maquinando algo bem cruel.
Como esperado nada foi agradável, fiquei o passeio todo longe dele. Evitando todo contato visual, ele se sentiu mais intimo de mim depois que contei algumas coisas que eu duvido que ele tenha prestado atenção. Compramos algumas coisas das lojas locais e voltamos pro hotel e foi em uma dessas lojas que o inferno realmente começou. Paulo encontrou uma amiga e fez questão de mostrar pra todo mundo que ela estava lá. Conversou super alto, dando risadas e lembrando do passado deles. Lola fingia que nem ouvia, mas pegou vários objetos pesados e fez menção de jogá-los na direção deles.
O auge de tudo isso foi quando ele a convidou para ficar no nosso hotel, nós e a loja toda, ouvimos que ela tinha chego na cidade aquele dia e que não tinha achado hotel para ficar. Dessa vez Lola fez questão de voltar no mesmo carro que ele e ele fez questão de deixar Lola dirigindo para ir no banco de traz com sua amiga. A conversa parecia animada e Lola acelerava cada vez mais. Quando estávamos chegando perto de um precipício Luidge diminuiu a velocidade e deixou que Lola passasse na frente todos ficaram em silencio até os passageiros do outro carro prestaram atenção na curva e no morro que estavam se aproximando. Foi bem tensa nossa volta ao hotel, mas entre mortos e feridos sobreviveram todos.
Ninguém sabia como ela permitiu aquela menina dentro do carro e no mesmo hotel. Os dias se arrastaram, todos queriam ir embora menos Paulo. Não podíamos voltar antes do prazo, pois perderíamos dinheiro, faltavam cinco dias pra viagem acabar e foram os cinco dias mais longos. Paulo aprontava do jeito que podia, tirou todo mundo do sério até mesmo o rapaz da recepção e a arrumadeira. O clima ficou pesado quando Paulo sumiu o dia todo com a tal amiga, Clarisse o nome dela, ele largou o celular no quarto e o dela ninguém tinha. Lola estava roxa de raiva no final da tarde, começou a escurecer e nem sinal deles. Estávamos nos preparando pra ir embora fiquei no quarto de Lola ajudando a arrumar as malas cada coisa dele que ela pagava pra guardar ela tinha vontade de jogar pela janela. Fiquei de longe olhando aquela cena e me imaginando contando pro Paulo quem era o mandante das flores, acho que a situação seria diferente e no mínimo umas coisas de Lola teria voado pela janela. Foi quando minha linha de pensamento foi interrompida com risadas e barulhos de água. Nossos quartos davam para a piscina do hotel e como não era de se espantar lá estavam eles Paulo e Clarisse se divertindo, bêbados e quase pelados. Acho que foi a melhor cena que já presenciei, Lola não falou nada pegou a mala dele semi-aberta e jogou direto na piscina. Os dois se espantaram com a agressão e quando deram conta do que estava acontecendo Lola pegou o notebook de Paulo e jogou, por pouco não pegou na cabeça dela. Ela fechou a janela sem dizer uma palavra se quer, largou suas coisas e saiu do quarto, fui atrás, mas já sabia o destino daquele disparate.
Chegando na piscina os dois recolhiam as coisas dele em silencio e o notebook tinha afundado na piscina. A cena era hilária, mas não me permiti soltar um riso. Lola era imprevisível quando contrariada.
- Você acha que eu tenho cara de trouxa? – Lola ficou parada do outro lado da piscina bem longe deles.
- Não, mas poderia ser um pouco mais educada – Clarisse resolveu falar e foi a pior coisa que ela poderia ter feito até aquele momento.
Meu sangue subiu imagina o de Lola. Paulo ficou estagnado por alguns segundos olhando para Clarisse como se não tivesse acreditado no que ela tinha dito, mas ele foi mais rápido do que qualquer reação que Lola pudesse ter. Largou as coisas dele no chão e ficou na frente de Lola.
- Seria melhor a gente conversar – segurando Lola pelos braços.
- CONVERSAR? – Lola gritou na cara dele – Você acha que eu tenho condições de conversar com alguém que nem você?
- Eu acho que sim.
- Você some o dia todo, larga o celular no hotel, não fala pra onde vai e ainda quer conversar, Paulo? – parecia que ela ia explodir.
- Vamos sair daqui os hóspedes estão olhando.
Eu não sei como aquela garota ainda estava respirando e dessa vez quem foi pra cima dela fui eu. Peguei as coisas do Paulo que estavam com ela e mandei ela sair dali, nunca vi uma pessoa mais abusada. Falei pros dois subirem e terminarem de resolver isso em outro lugar, fui juntando as coisas dele e tive que entrar na piscina pra pegar o tão molhado notebook dele. Na hora que emergi comecei a rir sozinha, já estava com vontade de fazer isso, mas não queria arriscar ter uma cadeira de sol vindo na direção da minha cabeça. Fiquei um pouco lá fora na beira da piscina aproveitando a noite e olhando pra dentro dela pra ver se não tinha nada dele no fundo. A briga só estava começando lá em cima, não queria me arriscar mais entregando as coisas do Paulo, fui até meu quarto e coloquei as coisas dele no banheiro troquei de roupa e coloquei um biquíni voltei pra piscina e quase entrei em choque quando vi aquela menina lá de novo. Voltei com duas quentes e três fervendo pronta pra vomitar na cara dela tudo aquilo que estava me consumindo, mas ela foi mais rápida na hora de falar.
- Eu queria pedir desculpas – com a voz mais doce do mundo.
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