quarta-feira, 1 de junho de 2011

cap.1 - parte 4

No mínimo um dois tipos de furacões passaram por ali. Não tínhamos saído pra afogar as mágoas? Porque a casa estava de cabeça pra baixo? Não me lembro de ter trazido todas as pessoas da boate pra cá! Todos estávamos uma bagunça, a casa fedia a tudo, não consegui distinguir o cheiro exatamente, Marcos estava varrendo os cacos que por felicidade de todos não eram minhas taças, que continuavam intactas em cima do balcão, exatamente aonde deixei antes de dormir, essa era a minha única recordação. Paulo tinha um saco grande de lixo nas mãos e recolhia o lixo da casa e Guilherme, namorado de Becca, estava com uma vassoura tentando tirar algo bem grudento do teto. Foi aí que meu cérebro começou a funcionar, se os três estavam ao alcance dos nossos olhos, quem é que estava bem atrás da gente com uma respiração ofegante?

- Fui a ultima a sair ele entrou na minha frente – tentando colocar meus olhos em ordem pela bagunça nem reparei que aquela pessoa estava lá.

- Desculpa, Becca eu tentei me desviar, mas vocês pareciam uma manada – aquela voz e aquele sorriso não deixavam a loucura me dominar.

- Porque ainda está parado aí? – cruzei meus braços e o encarei da pior maneira possível.

- O que ele está fazendo aqui? – Michel estava saindo de perto da gente quando Lola perguntou.

- Não sei, mas não vamos mover um músculo – empurrando as meninas pra dentro do quarto e me certificando de pegar a chave da fechadura – mas vamos trocar de roupa, lavar esses rostos e vamos sair. Eles vão arrumar tudo e aí deles se a gente chegar e essa casa não se encontrar exatamente da forma que estava ontem – dei uma elevada na minha voz.

   Cada uma foi pro seu quarto e por incrível que pareça todas estavam prontas antes de mim. Pareciam mais empolgadas com a idéia do que eu mesma. Saímos sem nos despedir e os quatro pararam pra ver o movimento, fiz questão de fechar a porta pra dar mais uma olhada na cara deles de espanto.

- Trago o café – ele estava me encarando com um olhar de esperança, fiz a minha melhor cara de desentendida e sai.

   Dava pra ouvir o pedido deles ainda.

- Ele ta sonhando que vai tomar o descafeinado hoje – Lola resmungou.

- Como eles podem criar esperança de ter um café da manha digno? Quase acabaram com a casa – Cris começou a andar de costas pra falar de frente com a gente – Eu queria mesmo saber o que ELE está fazendo lá.

   Ninguém sabia a resposta.



   Por sorte nossa casa se localizava perto de padarias, supermercados e outras coisas úteis. Já tinha passado do horário de almoço e ainda estávamos com enjôo só de pensar no café da manha. Fui direto na sessão de bebidas e peguei uma água gaseificada, era o melhor remédio para a minha ressaca seguido de um halls preto. Lola e Becca me seguiram enquanto Cris foi direto para a padaria comprar algum tipo de doce, esse era seu remédio.

- Como você consegue mastigar essa gordura toda? – Becca olhava indignada para a mão de Cris com aquele pedaço de bolo de chocolate todo enfeitado.

- É fácil, Rebeca – fazendo gestos como se estivesse comendo – você pega o garfo tira um pedaço do bolo e leva até a boca.

- Educação ao acordar sua mãe não ensinou?

- Também te adoro! – Cris deu um sorriso amarelo e foi para outra sessão.

   O mercado estava calmo então conseguimos comprar tudo o que queríamos e voltamos a tempo de pegar a casa ainda em desordem. Parecia que não tínhamos saído. Resolvemos deixar a cozinha e a parte de lavar as coisas de vidro por nossa conta, já era demais ficar inspecionando cada varrida ou móvel que saia e voltava pro seu lugar, imagina ter que ver o desastre de ter toda a louça da casa quebrada.

   Terminamos tudo ao mesmo tempo. Eles não eram tão mal assim em limpeza bruta.

- Você deveria usar seu tempo livre pra limpar estádios de futebol depois de uma partida clássica – sentado perto de mim na mesa, fiz questão de servi-lo.

- Seguraria o saco de lixo pra mim, querida? – tentou arrancar um sorriso de mim.

- Quantos metros de distancia você prefere, cinqüenta, cem talvez? – coloquei café demais na caneca dele, mas pareceu que isso não fez diferença.

- A distancia que você desejar, poderia treinar meu arremesso livre – ele fez um gesto com as mãos como se estivesse arremessando uma bola de basquete.

- Ah sim, somente com o alvo longe é que você tem a pontaria boa – mudei de lugar com Guilherme que não ousou recusar a proposta.

- 1 a 0 no placar final – Paulo adorava discussão de relacionamento na mesa – Lara está em vantagem.

- Acho que o placar real seria 1 a 1 – Michel começou a falar, mas foi interrompido por Lola.

- Você come, a gente fala, depois você vai embora, ok?

- Eu sabia que você não gostava de mim, mas precisava me escaldar? – Michel engoliu errado um pedaço de pão que tinha acabado de morder.

- A questão não é gostar ou deixar de gostar e o placar está 2 a 1 pra mim.

- Engasgar conta como ponto?

- Se você não ficar quieto o placar será de WO pra mim – Lola deu uma cotovelada em Paulo.

- Seria demais você explicar como veio parar aqui? – Becca calou Michel que já fazia menção de responder – Não quero piadas sem graça.

- Um táxi parou na porta da minha casa e começou a buzinar – tomando um gole do seu café e fazendo uma careta pelo excesso de cafeína – era tarde, não sei bem a hora. O cara do táxi foi insistente.

- Agora você virou a Cinderela, tem até carruagem – o telefone da casa tocou, fui até meu quarto pegar o sem fio.

- Eu acho que esse chofer tem nome, Lara – Cris me olhou como se tivesse algo a me dizer.

- Nem consegui raciocinar direito quando ouvi a voz do Paulo me chamando.

   Paulo quase jogou suco em cima da mesa com mais uma cotovelada que Lola lhe deu.

   Já estava voltando do meu quarto, pasma com o que estavam me falando do outro lado da linha, nem pude ouvir o que tinha acontecido pra Lola enfiar o braço nas costelas de Paulo outra vez.

- Ok, depois te ligo pra falar sobre o preço do estrago dentro do carro – desliguei o telefone furiosa – Agora nós temos um carro todo vomitado porque alguém não conseguiu segurar o lindo estomago frágil enquanto nosso querido amigo Ricardo fazia a vontade dos passageiros. Será que podemos entrar num acordo? – fuzilei Michel com os olhos.

- Ele foi me buscar totalmente fora de si, só tive tempo de trocar de roupa e entrar no carro – ele se levantou e foi pegar alguma coisa no sofá da sala.

- Eu falei que isso não ia dar certo, Paulo – Guilherme falava com um sorriso amarelo entre os dentes.

   Aquilo estava mais cheirando a um complô, mas me fiz de desentendida e sentei antes que a tontura me derrubasse de cara no chão. As meninas pediam explicações e ninguém sabia dizer o que estava acontecendo, um jogo de empurra, empurra estava formado. Michel voltou fumando e parou atrás de mim encostado no armário da cozinha. Estava de cabeça baixa senti o cheiro da fumaça e apenas estendi meu braço pra trás para que ele me entregasse o cigarro. Parecia que ele me adivinhava, veio com dois cigarros.

- 2 a 2, Lara – deu uma risada abafada.

- 2 a 2 é o cacete – a confusão na mesa cessou e minha voz estava mais alta do que o normal – eu quero saber porque você veio até aqui, fui até a sua casa fazer papel de idiota e agora você vem esfregar na minha cara que não adianta te tirar da minha vida? – dei uma tragada no cigarro e as lágrimas estavam começando a brotar.

- Desculpa, Lara – Paulo levantou da mesa.

- Eu quero ouvir da boca dele, Paulo – não conseguia tirar meus olhos de cima dele.

- Para de fazer terrorismo – Paulo insistiu.

- Talvez seja isso que eu sou, uma terrorista, mas antes eu quero saber a verdade.

- Fui eu – uma explosão era pouco no tom da voz dele – eu liguei pra ele, queríamos jogar, estávamos desfalcados, ele não quis vim, não queria te encontrar, estava com medo da sua reação.

- E qual seria a sua? – me virei pra mesa e sentei atordoada.

- Não ficaria longe de quem eu amo, não dessa forma – sua voz estava mais amena.

   Todos ficaram em silencio absoluto, pensei em várias coisas em poucos segundos. Minha vontade era de virar a mesa em cima dele, mas não queria mais nada quebrado.

- Você nunca conseguiu fazer nada que me agradasse, porque esperaria essa atitude agora? – com a voz embargada e indignada sai da mesa e fui na direção do meu quarto – Não quero ninguém batendo na minha porta – bati a porta com força e tranquei.


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