- Nem vi ele saindo daí – Luidge foi até a cadeira de balanço indignado – quantos anos ele tem? 60, 70? Como ele pode andar tão rápido?
- Ele não tinha uma bengala do lado dele? – tinha certeza de ter visto ele segurando a bengala com toda a força que ele tinha.
Isso nos excitou mais ainda, deixando o sumiço do senhor de lado fomos entrando na casa que ficava abaixo do nível da rua. Tinha mato pra todo lado, mas parecia que alguém o carpia toda semana, estavam saudáveis e alinhados. A casa era branca com rosa, uma cor bem suave, parecia a casa de uma boneca e pelo jeito que se olhava não tinha a noção de quanto era grande. Luidge, mais empolgado que todo mundo, começou a andar para a esquerda para justamente ver até onde ia a casa.
- Eu não acredito – filmando tudo o que ele via – venham até aqui, vocês não vão acreditar no tamanho disso.
Andamos na mesma direção que ele estava parado filmando e realmente a casa parecia ter trinta cômodos ou mais, sem contar no espaço aberto que tinha atrás dela que parecia uma área de lazer, pois dava pra ver a ponta de uma piscina.
- É claro que ela não vai sair daqui, olha o tamanho – voltei pro caminho até a porta da casa – até piscina tem, eu não sairia daqui se tivesse esse conforto.
- Não fale aquilo que você não quer pra você, Lara – Luidge estava com uma voz sombria.
Ninguém questionou o porque dessa frase e resolvemos seguir até o interior da casa. Quando chegamos na porta o cheiro não era agradável e a casa parecia estar inundada. Nem preciso dizer quem é que meteu a mão na maçaneta e abriu a porta todo esperançoso pra ver o que tinha lá dentro, o hall era confortável, mas não tinha moveis a sala ficava a direita e pelo que dava pra ver também não tinha moveis, apenas cortinas brancas feito neve esvoaçando de leve com a brisa que entrava por uma parte da janela. Era uma casa estranha, havia um corredor que dava pros quartos e para uma área externa no meio da construção. O cheiro ficava cada vez mais forte e tinha musgo no chão do corredor e nas paredes. Luidge não parava de filmar e foi o primeiro a passar pelo corredor pra ver o resto da casa.
- Eu não vou pisar nessa água, nem sei o que tem nela – Cris ficou parada no hall observando nós três entrando.
- Para de ser medrosa, sua bota não vai deixar que nada toque em você – Marcos voltou e pegou Cris pela mão.
- Esse cheiro está me enjoando – coloquei a blusa em cima do meu nariz.
Foi ai que nos assustamos, a porta da sala se fechou sozinha bem devagar fazendo um barulho que não tinha feito quando abrimos. Parecia filme de terror.
- Aquele velho deve ter algum sistema pra assustar as pessoas – Luidge disse entre risos olhando pra traz assim como todos nós estávamos.
Cris ficou branca feito giz e não movia um músculo, eu congelei também não gostava nem um pouco dessas coisas, mas Marcos fez a linha de Luidge e nos ignorou.
- Eu seguro em você, você segura em mim e assim se acontecer alguma coisa estamos juntas – agarrei o braço de Cris, foi o máximo que consegui me mexer.
Ela apenas concordou com a cabeça e por estarmos uma do lado da outra conseguimos nos mover lentamente.
A área aberta parecia uma piscina dividida em três partes, a primeira piscina parecia de vidro e bem rasa, pois Marcos pisou na água e seu pé nem afundou e fazia um barulho estranho como se houvesse tapete em cima do vidro. A cor da água era verde musgo e na superfície dessas três piscinas havia insetos com asas cor de chumbo, mas eles quase nem voavam ficavam planando bem perto da água suja.
Na segunda piscina tinha uma parede de vidro que a separava da terceira piscina e perto dessa parede tinha uma pedra e uma coisa verde em cima que parecia o corpo de uma criança desfalecido. Pra passar pra terceira piscina tínhamos que subir um degrau que parecia com uma calçada e passar por uma porta com uma moldura um tanto quanto chamativa. Era sextavada e só ali no batente da porta não havia musgo ou qualquer outra marca do tempo sem manutenção. O vidro também parecia impecável, nem perto da água ele era sujo. Coisas que observamos e não acreditamos ser verdade. Não me atrevi a passar por essa porta e optei entrar na porta que tinha a direita antes de passar pra terceira piscina, essa porta dava na cozinha, imaculada, como se fosse desinfetada todos os dias. Cris fechou a porta atrás de nós, pois o cheiro das piscinas estava insuportável, brilhante idéia a porta fechada fez com que o cheiro cessasse.
- Essa porta tem algum tipo de veda – sem largar do meu braço ela deu uma olhada pela cozinha toda – como que esse cheiro horrível de fora não entra aqui?
Nem consegui responder tinha coisa demais pra olhar, na verdade tinha um cômodo vazio que representava ser a cozinha, pois tinha pia, um fogão de ultima geração, a melhor geladeira que já vi e armários embutidos com puxadores de metal, era a cozinha mais limpa e bonita que já entrei. Andávamos como se fossemos siamesas mesmo com toda beleza nós sabíamos que não éramos bem vindas ali.
- Você viu aquela janela em cima da pia – Cris apertava os olhos pra enxergar melhor.
- Quer chegar mais perto pra dar uma conferida – olhei pra ela com uma ponta de esperança que ela dissesse não.
- Não sei porque ela está me atraindo tanto! – Cris não tirava os olhos da janela.
- Nem eu quero saber – e fomos andando devagar.
A paisagem lá fora era bonita, dava pra ver um playground com balanços, escorregador, pula-pula e outros brinquedos que todas as crianças gostariam de ter em casa. Cris ficou olhando especialmente pro pula-pula e começou a falar com uma voz estranha.
- Era ali que eu brincava, era feliz demais quando meus pais me deixavam brincar. Eu não tinha amigos e tinha que usar minha imaginação e fazer das minhas bonecas as minhas amigas.
Ela estava em uma espécie de transe, fiquei azul de medo, o braço dela ficou gelado e tenso, chamei os meninos, mas eles não conseguiram ouvir ela falando.
- O que ela disse? – Luidge estava com a câmera filmando-a como se ela fosse uma celebridade.
- Não foi o que ela disse e sim como ela disse – me afastei de Cris que continuava olhando pela janela.
- Mas repete, quero gravar – ele era o único empolgado com toda essa loucura.
- Ela disse que era ali que ela brincava e que os pais dela não deixavam ela brincar e que tinha somente as bonecas como amigas – fiquei toda arrepiada e comecei a rezar.
- Não foi isso que ela disse – Cris voltou do transe depois de um balanço que Marcos lhe deu.
A voz dela ainda estava estranha todo mundo ficou olhando pra ela e Luidge filmando desesperado pra não perder nenhum momento. Ela repetiu o texto do mesmo jeito quando estava em transe e ainda correu uma lágrima. Não éramos estudados no assunto, mas sabíamos que quando alguém entrava em transe não conseguia lembrar o que tinha feito ou dito durante ele. Ouvir ela repetindo as coisas exatamente como no transe era mais assustador ainda. Resolvi sair da cozinha e como estava desnorteada abri qualquer porta e sai daquele lugar. Luidge deixava qualquer pessoa sã louca, ele tinha paixão por paranormalidade e quando ele estava no local parecia que atraia essas coisas.
- Tenho certeza de que você não quer atravessar essa porta.
Fiquei paradíssima no mesmo lugar, não fiz questão de mover nem meu dedo da maçaneta da porta.
- Acha mesmo que vocês vão sair da minha casa e não vão sentir minha presença material?
Cristina estava parada sem saber o que estava acontecendo e porque aquela voz vinha de trás dela. A única pessoa que estava atrás dela era Luidge, foi quando todos percebemos que era nele que a menina estava agora. Logo pensei na câmera, olhei para o balcão perto da pia e lá estava ela, nem sei como cheguei até lá.
- Me gravar não levará vocês a lugar algum. Muitos já tentaram isso.
Eu queria correr, Marcos e Cris também olhavam incrédulos para o rosto de Luidge, aquela voz de menina deixava tudo mais sinistro ainda. Peguei Luidge pelo braço, mas não tirei ele de foco, Marcos entendeu o recado e foi abrindo a porta para que saíssemos. Chegamos na sala e Luidge saiu do transe, as cortinas continuavam esvoaçando levemente.
- O que aconteceu comigo? – ele queria pegar a câmera da minha mão de todo jeito.
- Não vou desligar isso por nada desse mundo – fiquei me esquivando dele.
- Vamos sair logo desse lugar – Cris já estava na porta da sala.
- Porque eu não lembro o que aconteceu? – foi pra perto de Cris – me ensina como que você faz, Cris – andou mais rápido pra chegar na frente dela.
Eu estava andando bem devagar e todos já tinham saído, dei mais uma filmada na casa e vi parada no corredor, deitada como se fosse um feto, a menina morena. Ela me olhava com um olhar triste, tinha o cabelo preto e liso, parecia uma índia.
- Oi Camila – aquele nome saiu como se a conhecesse.
- O nome dela não é Camila, essa é a Josy – a voz de um garoto ecoou.
Virei a câmera por instinto pro lado que a voz falou e havia um garoto parecido com ela parado olhando-a também. Não senti medo algum, fiquei filmando os dois como se eles fossem qualquer pessoa. Marcos, que foi o ultimo a sair, me chamou e eu não conseguia parar de filmá-la. Ela me chamava com os olhos. De repente ela sumiu, nesse momento meu sangue gelou tive o impulso de sair da casa e lá estava ela do lado do carro querendo ir embora com a gente.
- Como nosso carro veio parar aqui? – perguntei aleatoriamente.
- Eu não sei, só sei que quero ir embora – Marcos assumiu o volante.
- Acelera, irmão, acelera – Luidge estava na frente com Marcos.
- Me deixa ir com vocês, eu quero ir embora, me deixa ir – ela abriu a porta de trás do lado do passageiro e já estava entrando no carro.
- Não vai mesmo minha querida, sinto muito – e coloquei ela pra fora do carro.
- Não precisa machucar a menina – Luidge olhava vidrado para todos os lados.
- E quem disse que vou machucar, só não quero que ela entre no carro – fechei e travei a porta.
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