- Acho que não seria pra mim essas desculpas – não me preocupei em esconder meu tom de raiva.
- Conheço o Paulo desde pequena sei o que ele estava fazendo e não o apoiava – ela sentou em uma das cadeiras de sol.
- E porque se fez de cega e surda?
- Ele me pediu.
- Se ele te pedir pra pular da ponte você pularia então – cada palavra que saia da boca dela me deixava com mais vontade de gritar.
- Nunca gostei do ciúme possessivo dele é irritante.
- Como se isso só te afetasse.
A conversa foi breve, mas ela mostrou ser uma pessoa legal. Fui me acalmando e deixando que ela falasse. A luz no quarto de Lola e Paulo se apagou ficamos sem entender o que estava acontecendo, pois os gritos cessaram fiquei esperando alguém aparecer no portão de entrada da piscina. Ela ficou mais um momento ali olhando para o mesmo lugar que eu, mas ninguém apareceu. Sem se despedir ela foi embora e eu ainda fiquei dentro da piscina pensando no que tinha acontecido e na viagem de volta pra casa. Era tudo o que eu queria naquele momento o sossego do meu quarto.
Não vi a hora passar e estava começando a amanhecer resolvi voltar pro quarto pra tomar banho e esperar a hora do café da manha. Não sei porque me espantei, mas encontrei Lola e Becca deitadas na minha cama. A cena era engraçada as duas contorcidas para caber no pequeno espaço. Ninguém falou nada apenas nos olhamos era como se não precisássemos de dialogo sabíamos que ele era inútil naquele momento.
Tomei meu banho e arrumei as coisas de Paulo, que ainda estavam encharcadas, num canto do banheiro. Pensei em chamar Lola pra perguntar o que íamos fazer com toda aquela roupa molhada, mas era mais sensato torcer e colocar tudo dentro da mala. Era isso que ela ia fazer sem duvida alguma.
Era bom ter amizade de vários anos conversar às vezes não era preciso. Elas me deram espaço na cama e ficamos ali olhando pro nada e vendo aos poucos mais um dia nascer. Comecei a me trocar pra tomar café e Becca foi para o seu quarto fazer o mesmo, Lola ficou na mesma posição sem falar absolutamente nada. Estranho era pensar em tudo, em menos de um mês nós vivemos intensamente o que não vivíamos a mais de vinte anos. Cada momento daquela viagem nos fez ver que a vida sem aventuras não é absolutamente nada. Enquanto me trocava olhava pra Lola e via que sua mente não parava de trabalhar, talvez pensando no termino do namoro ou talvez pensando em como dar o troco em Paulo. As peças do quebra-cabeça começavam a se encaixar e ao mesmo tempo não faziam sentido. O fato de Luidge ser apaixonado por ela era um caso a se pensar. Lola nunca deu uma oportunidade a ele e a amizade dos dois era igual a que ele tinha com qualquer uma de nós, tirando o fato dos agrados que ele fazia. Aquele silêncio estava me consumindo queria saber o que tinha acontecido e como se nossas mentes estivessem ligadas ela começou a falar.
- Minha raiva passou – Lola sentou na cama – queria olhar na cara daquela menina e dizer o quanto o amigo dela é desprezível.
- Acho que esse fato ela já sabe.
- Como eu posso gostar de alguém como ele?
- Não podemos escolher – dei um sorriso abafado.
- Seria bom se o manual de ciúme viesse em negrito com letras garrafais.
Começamos a rir e a lembrar das outras cenas de ciúme não só do Paulo, mas as que tínhamos umas com as outras. Foram tantas que cada uma tinha seu código bastava um gesto e tudo vinha à tona como se estivéssemos vivendo-as de novo.
Ela me contou que ele pediu perdão por tudo o que tinha acontecido naqueles dias de possessão, mas não falou nada em não fazer de novo. O namoro seguiu como se nada tivesse acontecido. Tem gente que acha que ciúme é a maior prova de amor que alguém pode dar ao outro, eu fico em duvida sobre algumas formas de aplicá-lo. Descemos para tomar café depois que as meninas voltaram de seus quartos. Paulo, Luidge e Guilherme já estavam sentados na mesa e o papo parecia ameno só que uma coisa me incomodou e acho que não foi só a mim. Luidge estava sentado do lado de Paulo como se eles fossem bons e velhos amigos. Queria saber o quanto a cara de pau dele era boa para agüentar um soco de Paulo.
Nada da noite anterior foi falado, tomamos nosso café e subimos para arrumar o resto de nossas coisas. Sai primeiro da mesa e Paulo me acompanhou, pois ele sabia que as coisas dele estavam no meu quarto. Deixei o notebook dele aberto com o ventilador ligado em cima, mas acho que não ia adiantar quase nada o tempo de afogamento foi o suficiente para danificar qualquer coisa eletrônica que pudesse sobreviver a um mergulho. Ele não tentou falar comigo algo que não fosse sobre as coisas dele, mas senti que ele queria falar então resolvi fazer a boa samaritana e iniciar a conversa.
- Queria saber até quando você vai agir assim – estava sentada na minha cama deixando espaço livre para ele pegar suas coisas.
- To pegando alguma coisa sua? – ele sabia mais do que ninguém se fazer de desentendido.
- A Lola não me pertence.
- Ah, é dela que você está falando.
- É fácil se fazer de tonto, também gosto de agir assim em certas situações.
- Não quero falar sobre isso, Lara.
- Não mesmo? – minha voz não queria sair amigável.
- Na verdade eu quero, mas em outra hora e em outro lugar.
- Você está me deixando nervosa – não conseguia me imaginar em outro lugar falando sobre isso com ele.
- Fique tranqüila porque sou incapaz de trair a Lola – ele arrumava as coisas dele o mais devagar que alguém poderia conseguir.
- Jamais cogitaria essa possibilidade, Paulo – deu vontade de jogar o abajur na cabeça daquele infeliz – não se ache a ultima bolacha do pacote e na verdade nem posso te considerar uma das mais gostosas.
- Serio mesmo, Lara? – ele tentou jogar seu charme pra cima de mim.
- Não nego que bonito você é, mas não me agrada em nenhum aspecto.
- Deixa sua amiga saber disso.
- Ela já sabe meu bem.
- Conversam sobre mim – ele se espantou – interessante!
- Dá pra você pegar suas coisas logo, preciso me trocar – já estava do lado da porta esperando que ele saísse.
- Vai usar qual roupa hoje? – passando pela porta com suas coisas pingando – Aquela blusinha vermelha que eu amo ou aquele vestido decotado nas costas?
Não consegui nem responder de tanta raiva que fiquei.
- Lola – gritei pelo corredor quando a vi passando de cabeça baixa mexendo no celular – fala pro seu queridíssimo namorado que a sessão de desfile não rola na frente dele.
Bastou o olhar dela penetrando no rosto dele para ele sair do meu quarto sem falar mais nada.
Se eu já não gostava daquele pedaço inútil de homem agora passei a detestar. Se ao menos fosse a primeira vez que ele fizesse isso, até que eu poderia relevar, mas a reclamação não era só minha. Ele gostava de ser o centro das atenções quando não tinha a supervisão de Lola e isso não era nada interessante, pois ele queria chamar a atenção das pessoas erradas como Eu, Cris e Becca. Não desejava que ela terminasse com ele, pois da vida dela cuida ela, mas bem que ela poderia ter menos amor a um debilóide.
Todo inútil tem uma grande mulher ao seu lado, todas nós esperávamos que Lola visse isso logo e parasse de tratar bem uma pessoa que só a ofuscava.
A viagem finalmente chegou ao fim e já estávamos em casa quando fomos vitimas da ultima peça de Paulo. Na portaria do nosso condômino tinha uma pilha de cartas e outras coisas endereçadas a todos e a pilha maior era a de Lola. Ele quase surtou quando viu tantos embrulhos começou a rasgar todos eles ali mesmo gritando feito louco. Todo mundo parou para ajudar Lola a pegar as coisas que ele jogava pelo saguão. Ela como sempre não falou nada só olhava a cena e chorava. Aquilo foi a ultima gota, ninguém mais agüentava escândalos em publico e ainda mais quando eles não nos envolviam diretamente. Guilherme teve que segurar Paulo pelo braço para dar um basta no ataque de ciúme. Todos nós nos intrometemos tentando acalmá-lo e ao mesmo tempo o xingando por fazer tanta coisa errada em um pequeno espaço de tempo.
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