sexta-feira, 1 de julho de 2011

Capitulo 4 - Tentando

   Foi estranho o término daquela briga as coisas dele ficaram jogadas na porta de Lola, ela ficou trancada no quarto por horas. Geralmente ele voltava mais cedo do que naquele dia. Ela também não apareceu pra tomar café da manha no outro dia e nem sinal dele. Começamos a ficar preocupados com os dois, pois eles já tiveram brigas piores do que essa e não resultou no sumiço do casal. Por volta do meio-dia resolvi bater no quarto pra saber se ela ainda estava viva, mas a porta do seu quarto estava entre aberta e entrava luz pela janela, sinal de que ela ou tinha esquecido de fechar a janela ou tinha saído, que hora eu não sei, pois ninguém viu ou ouviu nada vindo de lá. Entrei no quarto assustada pensando mil coisas e não encontrei ninguém, as malas dela estavam abertas parecia que ela tinha tirado umas peças de roupa e a bolsa que ela estava usando também não estava em parte alguma. Liguei no celular dela e fiquei aliviada quando ouvi sua voz sonolenta.
- Estou na casa do Gustavo não se preocupe.
   Foi a única coisa que ela disse e desligou como se eu fosse uma estranha a incomodando. Uma preocupação a menos, Gustavo era nosso amigo do tempo de escola, sabia que ela estava em segurança, geralmente era pra ele que ela pedia colo quando ocorriam as loucuras de Paulo. Uma pessoa mais sensível e fora do contexto era melhor pra chorar as mágoas.
   Voltei pro meu mundinho e comecei a me organizar pra voltar ao trabalho no dia seguinte, não passara da hora do almoço, mas não gostava de deixar as coisas pra ultima hora, ainda mais quando voltava de viagem. Malas pra desfazer, correspondência pra todo lado e ter que abastecer a dispensa isso realmente tomava quase todo o curto tempo da parte da tarde e foi ai que minha ficha caiu. Porque a correspondência estava toda lá embaixo? Porque não vi vestígios de Cris e Marcos pela casa? Comecei a pensar nisso depois de algumas horas sentindo falta de alguém me apressando para ir ao supermercado comprar doce. Eles dois também sumiam quando brigavam só que isso era previsível e Cris sempre deixava um bilhete ou algum tipo de mensagem avisando aonde estava. Estava tão cansada de brigas de casal que fiquei quieta no meu canto tentando não pensar muito em ter que ouvir mais um discurso sobre relacionamento, mas minha concentração foi embora quando comecei a pensar no que teria acontecido com os dois para eles não voltarem pra casa desde o ultimo dia que nos vimos. Fui pegar meu celular de novo quando ele tocou.
- Lara! – era Cris com uma voz muito animada e aliviada – Liguei pra saber se vocês estão bem meu amor.
- Sua grande filha da mãe – me deu vontade de gritar no ouvido dela – porque vocês não vieram pra casa? Agora que me toquei que vocês nem passaram aqui pra ver se a casa estava em pé.
- Eu também te amo Lara – Cris deu risada – conseguimos estender nossas férias, mal chegamos na cidade e Marcos recebeu um telefonema do nosso chefe avisando que poderíamos ficar mais tempo de folga – e deu outra risada.
- Avisar que está viva e se divertindo não pode?
   Ela disse que já estava voltando pra casa, estava no supermercado comprando algumas coisas, pois sabia que não tinha nada pra comer. Nem falei nada sobre a grande confusão era melhor contar ao vivo.
   Como a parte do supermercado estava resolvida fui falar com minha vizinha, tinha comprado umas coisas pra ela e sua filha de oito anos. Elas moravam sozinhas, uma xerox da outra as duas Ana Maria. Era bonito de ver o quanto as duas se pareciam e a mãe dela fez questão de colocar o mesmo nome na filha, pois era herança de família, sua bisavó chamava Ana Maria e assim foi passando de geração em geração. A pequena falava que também colocaria o mesmo nome se tivesse uma menina. Ela queria seguir a tradição da família. Me divertia bastante com as duas.
   Cheguei perto da porta delas e ouvi a pequena chorando apertei a campainha e desejei ser apenas um choro qualquer. Quando Ana abriu a porta estava chorando também fiquei assustada e sem fazer perguntas entrei. Começamos a conversar sobre o que tinha acontecido e engoli á seco algumas coisas que tinha vontade de lhe falar. Ela super protegia a menina, era sufocante e como Maria, assim que nós a chamávamos para não ter confusão com a mãe, era uma menina muito inteligente ela sabia contornar a situação.
- Ela disse que foi você quem quebrou o despertador, achei estranho, pois ele apareceu quebrado depois que você foi viajar – Ana estava mais calma.
- Mas fui eu mesma Ana – dei uma olhada de canto para Maria que fingia não ouvir a conversa – acho que ela escondeu de você com medo da reação que está tendo agora.
- Mentindo pra mim, Lara – Ana levantou e foi até a geladeira pegar água – ela sabe que mentira não leva ninguém a lugar algum.
- Você já prestou atenção em como reage com coisas pequenas? – nem eu sei de onde saiu isso.
- Como assim reajo, Lara – ela ficou parada encostada na pia me olhando o clima começou a ficar tenso.
- Não gosto de me intrometer na vida de ninguém, mas você acha que sua filha tem que viver do jeito que você quer. Você é mãe ela te deve respeito, mas ela tem as vontades dela. Já parou pra olhar que Maria nunca dá um sorriso verdadeiro quando você está por perto?
- Mas eu só quero que ela viva bem – a raiva transparecia em seu rosto.
- Claro que quer, toda mãe quer – minha voz começou a ficar alterada – mas olha bem nos olhos dela, ela se sente acuada. Acha que não pode fazer nada que vá deixar em risco um dedo cortado ou alguma coisa quebrada. Não gosto de falar essas coisas pra você Ana, mas é a verdade infelizmente.
   Ana ficou quieta por algum tempo olhando Maria brincar com os presentes da viagem, parecia que ela tinha vontade de sair correndo e não deixar que a menina abrisse embrulho algum. Essa super proteção era uma doença já, ficava com medo as vezes de deixá-las muito tempo sem minha companhia. Comecei a pensar em vários casos de mães que super-protegem os filhos e quando crescem acabam de revoltando sem causa maior. Não era fácil olhar para Ana depois do que falei, mas tinha mais coisas a dizer.
- Eu acho que você deveria dar espaço a ela – peguei um pouco de água também – como criança. Coloca muita responsabilidade em cima dela.
- É difícil cuidar de uma pessoa, Lara.
- Eu sei que não é fácil, não sou mãe, mas sempre vi muitas mães sozinhas cuidando dos seus filhos sem essa super-proteção – sentei olhando pra sala – você não sente algo diferente quando está sozinha com ela?
   Ana não me respondeu.
   Ela sabia o que estava fazendo de errado e isso vinha da criação. O pai de Ana sempre foi muito autoritário, major do exercito morreu exercendo a profissão. Ela nunca reclamou dele, mas sentia um certo amargo em sua voz quando contava sua infância.


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