- A casa é de quem, Michel?
- Sua, mas ele é o invasor aqui.
- Pelo jeito não sou o único.
O que mais me espantava era a cara de pau dos dois, Victor não movia um músculo e Michel se fez de rogado e sentou no sofá. Fechei a porta com a maior tranqüilidade que meus nervos me permitiam, voltei pra cozinha e peguei mais um cigarro. Fiquei de pé do lado da geladeira com vontade de abri-la e começar a atacar qualquer coisa ao meu alcance na direção da cabeça dos dois. O clima ficou tenso, as horas passaram e eu nem percebi, já era tarde e no outro dia a vida de trabalhadora voltaria ao calendário.
- Você – me dirigi ao Victor – conclua seus pensamentos e rala e você – olhei pra cara deslavada de Michel – fala logo o que quer e rala também.
- Eu quero voltar com você!
- Eu quero voltar com você!
Os dois falaram ao mesmo tempo como se tivessem combinado. Aquela frase e aquela cena me deram ataque de risos.
- Tá, agora estamos num joguinho, quem fala melhor e primeiro ganha o prêmio?
- Nunca brinquei com você – Michel teve a infeliz idéia de falar.
- Eu só quero ser feliz de novo – como se ele fosse a pessoa menos sortuda do mundo.
- E eu sou o bozo. Por favor, saiam!
O controle sobre minhas pernas era quase uma catástrofe, minha cabeça rodava como se tivesse um gira-gira dentro. Eles finalmente entenderam meu recado e começaram a se mexer. Um mais lento que o outro pareciam esperar alguma súbita vontade da minha parte de pedir para um dos dois ficarem.
- Vou voltar!
- Não quero que volte.
- Mas eu preciso falar com você.
- Mais um querendo a minha ajuda na mesma noite é demais pra mim – quase chorei de tanto desespero.
- Você não vai se arrepender.
- Vou, eu sei que vou.
Continuei parada no mesmo lugar enquanto os dois saiam, Victor escreveu alguma coisa no bloco de notas perto do telefone e saiu logo atrás de Michel. Nem olhei o bilhete fui direto para o meu quarto, finalmente a noite tinha acabado e minha cama seria minha única e calada companheira.
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