Queria ter acordado mais cedo, sábado é sempre um dia bom para se aproveitar, mas a dor de cabeça e moleza que habitavam meu corpo realmente não eram confortáveis. Qualquer barulho era incomodo e felizmente a casa estava quieta. Os namorados também aproveitaram a noite de sexta sozinhos e não havia barulho de ninguém na casa.
Olhei no relógio e já passava do meio-dia fiquei mais um pouco na cama tentando me lembrar como tinha chego ali e porque tinha um pé do outro lado com as unhas devidamente feitas, reconheci ele na hora, não era pra menos, Cris e Becca são negras a única pessoa que poderia ter aquele pé incrivelmente branco era Lola. Dei um beliscão no peito do pé dela, mas isso não fez diferença nenhuma, Lola dormia estranhamente bem, dei mais um beliscão e nada a única solução foi tirar a coberta de cima dela, hora infeliz essa.
- Já falei que não Paulo – foi realmente alto o grito que ela deu e vi duas cabeças levantando do chão da mesma direção.
- Não grita Lola, quer que nossas cabeças explodam? – Cris reclamou e voltou a deitar.
- Só queria te acordar, flor do dia, mas vejo que não era comigo que estava dormindo.
- E tem melhor jeito de ser acordada em uma tarde de sábado? – Becca estava se arrumando pra levantar.
Todas nós estávamos uma bagunça e não entendi porque meu quarto foi o albergue da noite. Sempre fazíamos isso no quarto de Becca ela tinha duas camas de casal, útil para brigas com o namorado.
- Alguém me explica porque minha cabeça parece que vai explodir – fiquei sentada na cama tentando achar meus óculos.
Não obtive respostas, Lola e Cris voltaram a dormir e Becca já tinha levantado e estava procurando algo pra colocar nos pés.
- Tenho certeza que vim com meu chinelo pra cá.
Mesmo sem achar meus óculos levantei e fui até o banheiro, minha bexiga estava quase explodindo parecia que tinha tomado uma caixa de água sem parar, mas minha boca estava seca e com um gosto amargo horrível. Nem queria pensar no meu estado físico.
À tarde de sábado estava apenas começando e eu nem queria ver o estado do resto da casa, homens sozinhos sujeira em dobro, agora, imaginar três homens sozinhos em uma noite de sexta, não era animador sair do quarto. Tive que ser forte.
- Como você acha que está lá fora? – Becca achou meus óculos e veio me entregar no banheiro.
- Um furacão F5 é menos devastador – dei um sorriso agradecendo aos óculos.
- Nem quero me olhar no espelho – ela deu uma olhada muito sinistra pra mim.
- É minha amiga, temos que encarar a realidade um dia e estamos apenas começando nossas vidas, imagina isso com cinqüenta! – sai do banheiro e fui direto enfrentar a realidade da nossa casa em devastação.
- Eu não quero nem ver o que está acontecendo aí desse lado – uma voz abafada veio da cama – No mínimo tem sofá brincando de espada com a televisão.
- Levanta e vem ajudar – Cris também tinha levantado e estava arrumando seu cabelo.
- Duas pessoas não dão conta?
- To com medo de ser atacada quando abrir a porta, eles podem estar nos ouvindo – coloquei o ouvido perto da porta pra ver se tinha algum barulho.
- Seja mais corajosa, depois de ter surtado ontem um simples vídeo game assassino não vai te fazer mal – Becca estava atrás de mim tentando abrir a porta.
- Não vou sair é sério, perdi a coragem depois dessa do vídeo game – voltei e sentei na cama.
Lola se descobriu e ficou olhando pra mim como se eu fosse uma aberração.
- Você está de brincadeira né, Lara?! Acha que lá fora está pior que aqui dentro?
Realmente meu quarto não estava imaculado, mas tinha certeza que lá fora as coisas tinham vida já. Lola se cobriu de novo indignada com a minha atitude, mas era apenas um teatro pra ver se ela também levantava para nos ajudar.
Becca estava tentando abrir a porta sem sucesso.
- Porque sua chave não está na fechadura, Lara?
- Eu não acredito que eles fizeram isso – Cris veio revoltada até a porta verificar se estava trancada mesmo.
- Agora eu me revoltei – Lola levantou possuída e começou a bater na porta – Vocês estão me ouvindo que eu sei, se não abrirem essa porta vocês podem dar adeus ao jogo que eu encomendei.
Do outro lado era silencio absoluto, começamos a ficar realmente assustadas, eles não faziam esse tipo de brincadeira. Mas como a noite estava vaga em nossas mentes a única reação era bater na porta pra ver se alguém do outro lado respondia.
Peguei o telefone do lado da minha cama e comecei a ligar no celular deles, ouvíamos os celulares tocando e nada de ninguém atender.
- Vou estourar pessoalmente a cara de quem abrir a porta – discando de novo o primeiro numero.
- Absurdo isso – Cris sentou do meu lado na cama.
- Eu quero meu remédio pra dor cabeça – Becca andava de um lado pro outro.
- Acho que ouvi alguém – Lola estava com o ouvido colado na porta.
- Porque tem celular? – mais uma ligação que caia na caixa postal, o clima dentro do quarto era tenso – Vou ligar mais uma vez se ninguém atender...
- Se estamos em casa porque você está me ligando? – Marcos, namorado de Cris, atendeu com uma voz embargada - Não seria mais fácil me acordar pessoalmente?
- Você não ia querer que eu te acordasse hoje – as três olharam pra mim, a raiva não me deixava falar baixo.
- Porque gritar desse jeito parece que está desesperada!
- Desesperado vai ficar você se não vier abrir essa porta – Cris pegou o telefone da minha mão – não quero desculpas Marcos, venha abrir a porta agora, vocês inventam as suas brincadeiras e nós é que temos que pagar o pato – desligou o telefone na cara dele.
Segundos depois ouvimos vozes e barulho pela casa, deduzimos que Marcos havia acordado os outros dois e eles estavam procurando a chave. De repente um barulho de louça quebrando, pulei aflita pra perto da porta e gritei impaciente.
- Se isso que quebrou foram as minhas taças eu juro que degolo um por um – dei um murro na porta.
Eles falaram alguma coisa inaudível e pude ouvir minhas lindas taças sendo varridas. Me deu vontade de chorar, mas a raiva era maior queria aparecer destruidora na frente deles. O tumulto do outro lado passou e os passos em direção a porta aumentaram. A chave foi colocada na fechadura e quando finalmente estava aberta nós quatro saímos que nem gatos pulando pra fora da reclusão.